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David Bowie revela o único gênero musical que jamais ousou tocar: “Não sou um Springsteen de glitter”

Você pode acusar David Bowie de muitas coisas: excêntrico, mutante, possivelmente alienígena, dono de uma discografia que parece um quebra-cabeça entre o glam, o industrial, o jazz e aquele pop dançante que toca enquanto você tem uma crise existencial no banheiro. Mas previsível? Nunca foi.

Por isso, a revelação de que havia um gênero que Bowie simplesmente não conseguia encarar soa quase como descobrir que o Chapeleiro Maluco não gosta de chá.

“Eu não me sentia um dos trabalhadores. Nunca poderia ser um artista tipo Springsteen porque não acredito ser isso. Não acredito que conseguiria representar isso. E é apenas uma questão de representação”, confessou Bowie em uma entrevista resgatada pelo Far Out Magazine.

Bowie de jeans e camiseta? Cancelado antes de nascer.

Sim, o homem que nos deu Ziggy Stardust, The Thin White Duke e uma faixa chamada TVC15 (sobre uma televisão que come pessoas) não conseguia — nem queria — vestir a fantasia de operário do rock.
Enquanto Bruce Springsteen usava bandana, falava de fábricas e fazia o povo americano chorar em cima da caminhonete, Bowie estava mais interessado em recitar Nietzsche com um saxofone na mão e um olho de cada cor.

Imagina o David entrando no palco em camisa xadrez e jeans desbotado, cantando sobre como perdeu o emprego na montadora? Nem o Starman aguentaria.

Mas ele tentou de tudo. E é por isso que a gente o ama.

Bowie flertou com o soul em Young Americans, abraçou a eletrônica em Earthling, virou jazzman em Blackstar, fez dueto com Freddie Mercury e até apareceu cantando com um boneco do Labirinto – A Magia do Tempo. Ele era, literalmente, o artista do “por que não?”.

Só que havia uma linha que nem ele cruzaria: a do blue-collar rock. Esse terreno era de Springsteen, Tom Petty, Mellencamp — os reis da cerveja gelada no cooler e do coração partido no posto de gasolina. Bowie, por sua vez, era mais do tipo que surgia com uma bengala neon e falava sobre o apocalipse enquanto dançava em slow motion.

Conclusão: deixe o macacão para os mortais

A verdade é que Bowie não precisava representar o “homem comum” — até porque ele nunca foi um. Ele era o artista que dava voz aos estranhos, aos deslocados, aos que se reinventam a cada década, corte de cabelo e mudança de planeta.

E enquanto a fábrica de Bruce continua firme e forte com seu motor V8 emocional, Bowie segue eterno com seus sintetizadores, suas personas e aquela aura de quem jamais pegaria numa chave inglesa — mas escreveria um épico de sete minutos sobre ela.