the cure In Between Days

The Cure e a música que (quase) deu um sorriso à escuridão: a história de “In Between Days”

Você sabe que algo está mudando quando até o Robert Smith resolve usar violão. E não é piada: foi com “In Between Days”, o single de 1985 do The Head on the Door, que a banda britânica começou a tirar o pé do breu para flertar com o pop sem perder a angústia existencial de sempre.

Segundo a Far Out Magazine, Robert Smith tinha apenas 25 anos, mas já era praticamente um veterano de guerra musical. Depois de uma sequência de discos soturnos como Seventeen Seconds, Faith e Pornography, ele começou a se perguntar se realmente precisava carregar tanta neblina nos ombros o tempo todo. E aí veio o estalo: talvez um violão — até então considerado “instrumento de hippie” por ele — pudesse ajudar a virar essa página.

“O demo de ‘In Between Days’ é um ótimo exemplo dessa mudança”, escreveu Smith nos encartes da reedição do disco. “Até então, eu via o violão como algo que não combinava com o The Cure. Mas eu estava determinado a explorar todas as possibilidades.”

O resultado foi uma faixa com teclados alegres, batidas dançantes e uma melodia que parecia querer te abraçar, até você prestar atenção na letra e lembrar que, sim, ainda estamos falando do The Cure. A música, segundo Smith, é “uma história óbvia de garoto e garota, vai e volta”, ou seja: uma canção de arrependimento, autocomiseração e desejo não correspondido. Emoções fofas como um abraço de espinhos.

Mesmo assim, “In Between Days” foi o primeiro passo rumo a um The Cure mais pop, mais leve e — por incrível que pareça — mais livre. Na época, Smith e cia ainda estavam tentando se firmar no mercado americano. O sucesso nas rádios demorou, mas o clipe dirigido por Tim Pope (com suas cores vibrantes e edição frenética) ajudou a conquistar uma nova audiência: aquela que ainda não sabia que dava pra dançar triste.

“A imprensa britânica é uma merda”, disparou Smith em entrevista à Daily Illini em 1985. “Mas tudo bem, 90% das pessoas que me encontram acham que eu sou um babaca também.”

Ídolo é isso aí.

A turnê do álbum The Head on the Door foi um marco: pela primeira vez, o Cure viu seu público dançar com alegria em vez de chorar no escuro. E Robert Smith não reclamou. Ao contrário: achou um ponto de equilíbrio.

“Estamos realmente começando a pensar no nosso público”, disse ele em Chicago. “Tentamos dar à plateia uma mistura do que eles querem ouvir e do que nunca esperariam.”

“In Between Days”, então, não é só uma música dançante e melancólica ao mesmo tempo. É a trilha sonora perfeita para quando você está entre dois dias, dois amores, dois cortes de cabelo mal pensados. É o começo do Cure encontrando leveza sem perder a profundidade — ou, como diriam os fãs, chorando com um pouco mais de ritmo.