Lançada na Bélgica em setembro de 2009 (e no resto da Europa em 2010), “Alors On Danse” transformou Stromae num fenômeno global ao levar um dance-pop minimalista e um texto quase sociológico ao topo das paradas. O contraste é o motor da canção: batida hipnótica x cotidiano exaustivo. O refrão repetido vira válvula de escape coletiva.
Desenvolvimento e composição
Com base rítmica house/dance enxuta (baixo pulsante, kick seco, clarinete/synth repetido) e flow falado em francês, Stromae empilha imagens do corre moderno (estudo → trabalho → dinheiro → dívida…) até a saturação. O clipe foca no rosto/gesto do protagonista exausto que vaga por escritórios e bares; quando a pressão atinge o limite, a dança entra como anestésico social.
Significado da letra
A letra é um inventário do cansaço: responsabilidades, crises, luto, fome de mundo — e, diante disso, dançamos. A repetição não é preguiça: é forma. O ciclo se repete até a catatonia.
“Qui dit étude dit travail / Qui dit taf te dit des thunes / Qui dit argent dit dépenses / Qui dit crédit dit créance”
Quem diz estudo, diz trabalho; trabalho, dinheiro; dinheiro, gasto; crédito, cobrança. Em quatro linhas, Stromae desenha a esteira rolante do capitalismo doméstico: toda solução puxa um novo problema.
“Qui dit dette te dit huissier… / Qui dit amour dit les gosses… dit divorce”
Dívida chama oficial de justiça; amor chama filhos… e divórcio. A vida não organiza o caos: acumula. O eu lírico não dramatiza — constata.
“Qui dit proches te dis deuils… / Qui dit crise te dis monde… / Qui dit fatigue dit réveille encore sourd de la veille”
Próximos implicam lutos; crise é global; cansaço acorda “surdo do dia anterior”. A expressão sugere entorpecimento: o corpo levanta, mas a cabeça continua zumbida.
“Alors on sort pour oublier tous les problèmes / Alors on danse”
Então a gente sai pra esquecer. O refrão funciona como rito urbano: a pista vira refúgio laico. Não resolve — alisa as arestas por algumas horas.
“Et là tu t’dis que c’est fini… / Quand y en a plus, eh ben y en a encore !”
Quando acha que acabou, vem mais. A frase-gancho resume a lógica da sobrecarga: não há final de etapa, só continuação.
“Est-ce la zik ou les problèmes ? / Les problèmes ou bien la musique ? / Ça t’prend les tripes / Ça te prend la tête”
É a música ou os problemas? Os problemas ou a música? Os dois “te pegam” — nas entranhas e na cabeça. A canção admite o paradoxo: a música alivia e excita, anestesia e agita.
“Et puis tu pries pour que ça s’arrête… / Alors tu t’bouches plus les oreilles / Et là tu cries encore plus fort”
O pedido de trégua vira grito. Em vez de tapar os ouvidos, o corpo extravasa. Catarses de pista não são silêncio: são barulho contra o barulho.
“Alors on chante… la-la-la…” → “Alors on danse”
O canto entra como estágio anterior à dança: primeiro vocalizamos; depois movemos o corpo. Quando termina… começa de novo.
“Et ben y en a encore” (repetição final)
O loop textual replica o loop da vida. Até o fade-out recusa fechamento: o ciclo segue fora da música.
Letra de Alors On Danse
Alors on dan-
Alors on dan-
Alors on dan-
Qui dit étude dit travail
Qui dit taf te dit des thunes
Qui dit argent dit dépenses
Qui dit crédit dit créance
Qui dit dette te dit huissier
Lui dit assis dans la merde
Qui dit amour dit les gosses
Dit toujours et dit divorce
Qui dit proches te dis deuils car les problèmes ne viennent pas seul
Qui dit crise te dis monde dit famine dit tiers- monde
Qui dit fatigue dit réveille encore sourd de la veille
Alors on sort pour oublier tous les problèmes
Alors on danse
Alors on danse
Alors on danse
Alors on danse
Alors on danse
Alors on danse
Alors on danse
Alors on danse
Alors on danse
Et là tu t’dis que c’est fini car pire que ça ce serait la mort
Qu’en tu crois enfin que tu t’en sors quand y en a plus et ben y en a encore!
Est-ce la zik ou les problèmes?
Les problèmes ou bien la musique?
Ça t’prends les trips
Ça te prends la tête
Et puis tu prie pour que ça s’arrête
Mais c’est ton corps
Ce n’est pas le ciel
Alors tu t’bouche plus les oreilles
Et là tu cries encore plus fort
Et ça persiste
Alors on chante
Lalalalalala, lalalalalala
Alors on chante
Lalalalalala, lalalalalala
Alors on chante
Alors on chante
Et puis seulement quand c’est fini
Alors on danse
Alors on danse
Alors on danse
Alors on danse
Alors on danse
Alors on danse
Alors on danse
Alors on danse
Et ben y en a encore
Et ben y en a encore
Et ben y en a encore
Et ben y en a encore
Et ben y en a encore
Popularidade e impacto cultural
-
Chegou ao #1 em diversos países europeus (incluindo Bélgica, França, Alemanha, Itália, Holanda, Suíça etc.), e viralizou no Brasil no fim de 2010 (ganhando até sátiras em rádio).
-
O clip com closes no rosto de Stromae fixou a imagem do anti-herói exausto.
-
A canção ganhou remixes (incl. um com Kanye West) e reaparições cíclicas em TikTok, onde serve para celebrar conquistas e rir do corre — reforçando a leitura de dança como sobrevivência.
Legado
“Alors On Danse” reabriu espaço para o francês no mainstream global e consolidou Stromae como cronista do stress moderno. O modelo — batida hipnótica + texto sobre burnout — ecoa em sua obra posterior (“Formidable”, “Santé”) e em artistas que unem pop e comentário social.
Dançar é aguentar o próximo dia
Stromae transforma o ciclo do aperto em coreografia coletiva. Em “Alors On Danse”, dançar não é fugir: é aguentar mais um dia. A música nos empresta um passo quando faltam palavras — e, enquanto a vida repetir “tem mais”, a gente responde, juntos: “Alors on danse.”

