os paralamas do sucesso

Análise: Letra de “Aonde Quer Que Eu Vá” — Os Paralamas do Sucesso

Poucas canções brasileiras falam com tanta delicadeza sobre a ausência quanto “Aonde Quer Que Eu Vá”, dos Paralamas do Sucesso. Lançada em 2002, no álbum Longo Caminho, a música se tornou símbolo de amor incondicional, saudade serena e esperança persistente — principalmente após o trágico acidente que deixou o vocalista Herbert Vianna paraplégico e vitimou sua esposa, Lucy.

O que era uma canção de amor já tocante ganhou, com o tempo, camadas mais profundas, quase espirituais, tornando-se um hino para quem ama à distância — seja essa distância geográfica, emocional ou eterna.


🧠 Análise da letra: a presença na ausência

“Olhos fechados pra te encontrar / Não estou ao seu lado, mas posso sonhar”

A música já abre com um gesto universal: fechar os olhos para ver o que não está mais diante de nós. É sobre resgatar o outro na memória, no afeto, no inconsciente. Mesmo longe, o amor continua presente — nos sonhos, na lembrança, na imaginação.

“Aonde quer que eu vá / Levo você no olhar”

Esse verso é o coração da canção. O amor é tatuado no olhar — um amor que não depende da presença física. Carregar alguém no olhar é mais do que lembrá-lo: é deixar que ele continue moldando o jeito como se vê o mundo.

“Não sei bem certo se é só ilusão / Se é você já perto, se é intuição”

Aqui, surge a dúvida doce de quem sente algo tão forte que já não sabe mais se é real ou desejado. É a fronteira tênue entre fé e saudade. E talvez seja os dois. E tudo bem ser os dois.


🌌 Longe daqui, mas dentro de tudo

“Longe daqui, longe de tudo / Meus sonhos vão te buscar”

Essa parte evoca a persistência do afeto. Mesmo quando o outro está fora de alcance, os sonhos continuam a fazer esse papel de ponte. É uma promessa: a distância não mata o amor, só o transforma.

“Volta pra mim, vem pro meu mundo / Eu sempre vou te esperar”

Não há desespero aqui — há entrega. Uma espera que não é sofrimento, mas compromisso com o sentimento que ficou. Uma declaração silenciosa de permanência emocional.


🎶 A leveza da repetição: mantra de saudade

O “larará” que se repete não é vazio. Pelo contrário, é um refrão emocional, um mantra que preenche os espaços entre as palavras com sentimento puro. Às vezes, quando as palavras já disseram tudo, o corpo canta no lugar da linguagem racional.

Letra de “Aonde quer que eu vá”— Os Paralamas do Sucesso

Olhos fechados
Pra te encontrar
Não estou ao seu lado
Mas posso sonhar
Aonde quer que eu vá
Levo você no olhar
Aonde quer que eu vá
Aonde quer que eu vá

Não sei bem certo
Se é só ilusão
Se é você já perto
Se é intuição
E aonde quer que eu vá
Levo você no olhar
Aonde quer que eu vá
Aonde quer que eu vá

Longe daqui
Longe de tudo
Meus sonhos vão te buscar
Volta pra mim
Vem pro meu mundo
Eu sempre vou te esperar
Larará! Lararára!

Não sei bem certo
Se é só ilusão
Se é você já perto
Se é intuição
E aonde quer que eu vá
Levo você no olhar
Aonde quer que eu vá
Aonde quer que eu vá

Lá! Larará! Larará!
Lá! Larará! Larará!
Aonde quer que eu vá
Lá! Larará! Larará!
Lá! Larará! Larará!
Lá! Larará! Larará!
Aonde quer que eu vá


🧷 Conclusão: amor que atravessa tempo e espaço

“Aonde Quer Que Eu Vá” é sobre o amor que não termina com a distância, não depende de reciprocidade imediata e não se apaga com o tempo. É um amor que aprende a viver no silêncio, nos sonhos, nas memórias e no olhar.

É uma canção para quem ainda espera, para quem ainda sente, para quem ama — mesmo quando o outro já não pode ouvir.

E, no fundo, ela nos ensina que o amor verdadeiro não precisa estar perto. Precisa apenas continuar sendo amor.