os paralamas do sucesso

Análise: Letra de “Uma Brasileira” — Os Paralamas do Sucesso

Lançada em 1995, dentro do álbum Vamo Batê Lata, a música “Uma Brasileira” se tornou um dos maiores hits dos Paralamas do Sucesso, com participação e composição conjunta de ninguém menos que Jorge Ben Jor. Essa união de dois universos — o rock pop dos Paralamas e o samba-funk psicodélico de Jorge — resultou numa canção que é pura ginga, lirismo e brasilidade mística.

Mais do que descrever uma mulher, a música a celebra, a abstrai e a transforma em símbolo — de ritmo, de fogo, de identidade, de música. “Uma Brasileira” não se explica racionalmente: ela pulsa.


🧠 Análise da letra: poética livre, intuitiva e sinestésica

“Rodas em sol, trovas em dó / Uma brasileira, ô / Uma forma inteira, ô”

Já de cara, a letra estabelece a musicalidade como elemento central. “Rodas em sol” e “trovas em dó” misturam movimento e tonalidade, como se descrevessem a mulher em termos musicais. A brasileira aqui não é apenas uma pessoa: é uma canção viva. Uma partitura em movimento.

“Nada demais / Nada através / Uma légua e meia, ô / Uma brasa incendeia, ô”

Essa parte brinca com o vazio e o calor. A mulher parece ao mesmo tempo inatingível (“nada através”) e intensa (“uma brasa incendeia”). É a contradição feminina mítica — delicada e perigosa, perto e longe, calma e febril.

“Deixa o sal no mar / Deixe tocar aquela canção”

Mais do que um verso, isso é um mandamento. Uma entrega ao som, ao instante, ao sabor das coisas como são. É como se a música dissesse: não tente controlar — apenas dance, sinta, escute.


🌀 O refrão-mantra: “One more time”

O uso do inglês no refrão — repetido como um transe pop — remete à globalização do pop rock nos anos 90. Mas aqui, longe de soar genérico, essa repetição se torna um mantra de desejo. A vontade de reviver aquele momento, aquela canção, aquela mulher… mais uma vez.

“One more time, ime, ime…”

É hipnótico. Como o samba. Como o amor que escapa e deixa a vontade de replay.


🌽 Delírios tropicais e linguagens inventadas

“Tatibitate / Trate-me, trate / Como um candeeiro, ô / Somos do interior do milho”

A poesia aqui abandona o racional de vez e se entrega ao delírio tropicalista. O “tatibitate” soa como uma brincadeira com linguagem de bebê, uma onomatopeia de encantamento infantil. “Interior do milho” pode remeter ao sertão, à essência da terra, à raiz. É Jorge Ben sendo Jorge Ben: inventando palavras para dizer o que não cabe nas que já existem.

“E esse ão de são / Hei de cantar naquela canção”

Aqui, o uso do som nasal “ão” ganha status quase místico. É o som do português brasileiro, do samba, do coração aberto. Um verso que é mais sentido do que compreendido. Como deve ser a poesia quando está apaixonada.

Letra de “Uma Brasileira”— Os Paralamas do Sucesso

Rodas em sol, trovas em dó
Uma brasileira, ô
Uma forma inteira, ô
You, you, you

Nada demais
Nada através
Uma légua e meia, ô
Uma brasa incendeia, ô
You, you, you
Deixa o sal no mar
Deixe tocar aquela canção

One more time, ime, ime
One more time, ime, ime
One more time, ime, ime, ime, ime
One more time, ime, ime
One more time, ime, ime
One more time, ime, ime, ime

Tatibitate
Trate-me, trate
Como um candeeiro, ô
Somos do interior do milho
E esse ão de são
Hei de cantar naquela canção

One more time, ime, ime
One more time, ime, ime
One more time, ime, ime, ime, ime
One more time, ime, ime
One more time, ime, ime
One more time, ime, ime, ime, ime

Nada demais
Nada através
Uma légua e meia, ô
Uma brasa incendeia, ô
You, you, you
E esse ão de são
Hei de cantar naquela canção

One more time, ime, ime
One more time, ime, ime
One more time, ime, ime, ime, ime
One more time, ime, ime
One more time, ime, ime
One more time, ime, ime, ime, ime


💃 Conclusão: quando a mulher vira música e a música vira mulher

“Uma Brasileira” não tenta descrever uma mulher. Ela tenta evocá-la, dançá-la, cantar sua essência. É menos uma canção sobre alguém e mais uma celebração de um estado de espírito: a feminilidade tropical, misteriosa, encantadora e rítmica.

É a mulher como ritmo, como calor, como parte da canção. E, como toda boa música, ela não se explica — se sente. Se repete. Se deseja. One more time.