Sete anos sem um disco novo e Lily Allen voltou sem freio, sem filtro e sem pena. West End Girl não é apenas o título do seu novo álbum — é também um aviso: essa mulher passou por um divórcio, um furacão emocional e decidiu escrever sobre cada detalhe escandaloso com a afiação de quem tem a língua afiada, o coração partido e um teclado com acesso à produção musical.
E que fique claro: isso não é só uma carta de separação. É um dossiê com datas, nomes e cenas descritas em Dolby Atmos.
🎭 Trama: Lily Allen X David Harbour, feat. Madeline e um dojo suspeito
Pra quem dormiu nos últimos capítulos da vida real: Lily Allen foi casada com David Harbour, o eterno Hopper de Stranger Things. Eles se casaram em 2020, se mudaram para Nova York, e pareciam o tipo de casal que frequenta brunch com colheres de ouro. Mas a fofura ruiu. E West End Girl é o resultado disso.
Gravado em 16 dias de pura raiva e inspiração, o álbum parece escrito numa daquelas madrugadas em que você bebe vinho sozinha, descobre a senha do e-mail do ex e começa a fazer anotações em Notas do iPhone.
Logo na faixa-título, West End Girl, Lily volta ao momento em que as coisas começaram a desmoronar: uma ligação para Londres, um novo papel no teatro, e uma distância emocional que virou abismo.
💔 Não monogamia, sim. Traição, não.
Allen se aprofunda nas zonas cinzentas dos acordos conjugais modernos. Ela canta sobre relacionamento aberto, sim — mas com regras. Regras que, aparentemente, foram ignoradas por Harbour como quem ignora spoilers na internet. Em Sleepwalking, ela entrega um retrato ácido de um casamento congelado: “Você não me toca, mas ainda é carente.”
Já em 4chan Stan, a comédia vira tragédia: Lily descobre que o marido comprou uma bolsa cara para outra mulher. Em Tennis, ela lê uma mensagem comprometedora no celular dele. O nome da outra? Madeline. E então, ela canta direto pra rival, numa das letras mais afiadas do pop britânico dos últimos anos:
“É só sexo ou também tem emoção? / Ele prometeu hotéis, não envolvimento emocional / Por que eu confiaria em qualquer coisa que sai da boca dele?”
É quase You Oughta Know, versão mother-of-two, sóbria e com senso de humor britânico.
🔞 Bem-vindo ao Pussy Palace
E se você achou que Lily tinha dito tudo… Pussy Palace chega como um soco performático. Ela volta ao apartamento dos dois e encontra brinquedos sexuais, camisinhas e fios de cabelo de outras mulheres no que supostamente era um dojo. Sim, dojo. A faixa inteira gira em torno da pergunta: “Eu estou olhando para um viciado em sexo?” E você se pergunta também.
Em Just Enough, Lily se pergunta se o ex engravidou alguém — e o tom, embora sarcástico, nunca perde a dor por trás da piada. Esse é o poder de Allen: fazer você rir com a faca ainda cravada.
🥃 A dignidade do final (e da sobriedade)
O disco fecha com um bloco mais contido e emocional. Faixas como Mutual e Carry the Pain falam de mentira, filhos e o esforço de se manter sóbria. “Mentir para as crianças e dizer que a separação foi mútua”, ela canta. Mas, no fundo, a verdade sangra por entre os versos.
No final, ela entrega: “Não sou eu, é você. E não havia nada que eu pudesse fazer.” Não há catarse. Não há vingança. Só aceitação, amargura e um tipo de paz possível quando você decide parar de proteger o outro — e começa a contar a sua versão da história.
🎙️ Veredito final:
Nota: 9/10 — Um divórcio em forma de disco, com todas as DRs que ela não quis ter cara a cara. Cruel, inteligente, provocador. Lily Allen está viva — e mais afiada do que nunca.
Se você achava que No Shame (2018) era Lily em sua fase mais confessional, West End Girl é como se ela tivesse jogado o diário na cara do mundo. Tem sarcasmo, tem trauma, tem adultério com nome e endereço — e tem uma artista que, depois de 40 anos, ainda sabe como transformar caos emocional em pop brilhante.

