Lá em 2000 (obrigado ao amigo Sami Auni pela correção), uma empresa de telefonia anunciou que Belo Horizonte receberia o Foo Fighters, projeto do ex-baterista do Nirvana e que até aquele momento ainda não havia pisado em solo brasileiro. Na época, Dave Grohl ainda se dizia um alucinado por extraterrestres e o tal do “E.T. de Varginha [cidade do interior de Minas]” ainda era um assunto que atraía bastante atenção dos apaixonados por ufologia. Por motivos diversos e incertos, o show não aconteceu e a capital mineira teve que esperar quase 20 anos para poder ver Grohl e companhia tocando na cidade.

Com pouco mais de 17 mil pessoas presentes, a Esplanada do Mineirão recebeu o último show da turnê brasileira de Sonic Highways. Ainda que Belo Horizonte tenha sido o local com o menor número de ingressos vendidos (mesmo após a troca de local da apresentação, que estava originalmente marcada para o famigerado Mega Space), o público realmente não decepcionou e fez questão de cantar junto todos os hits. Aliás, verdade seja dita, mais parecia uma turnê de “Greatest Hits” do que do último disco: apenas “Something for Nothing”, “Congregation” e “In the Clear”, sendo a terceira uma forte candidata ao posto de “músicas obrigatórias de shows do FF”.

Porém, antes da atração principal subir ao palco, o público acompanhou os shows de Raimundos e Kaiser Chiefs. Com pouco tempo para conversar, Digão iniciou a apresentação de sua banda com o clássico “Eu Quero Ver o Oco”. Foi o bastante para garantir a atenção da turminha que esperava ansiosa por Dave Grohl. Cerca de quarenta minutos depois foi a vez dos britânicos do Kaiser Chiefs abrirem com “Everyday I Love You Less And Less” e realizarem o melhor dos quatro shows da turnê brasileira – embora aparentassem certo cansaço. “Na Na Na Na Naa” foi novidade, já que não havia sido tocada nas outras cidades. Quando se trata do Kaiser Chiefs, é sempre certeza que será um show animado para todo mundo dançar e se divertir. Com seis shows no Brasil, eles nunca falharam em agradar o público.

Kaiser Chiefs @ Belo Horizonte - 28/01/2015

Um dos principais defeitos da performance do Foo Fighters é a sua previsibilidade. Chega a ser ofensivo, a começar da mania de perfeição em começar pontualmente às 21h15. O rock de Dave Grohl se tornou uma peça de teatro minimamente ensaiada e sem espaço para improvisação. São as mesmas músicas, as mesmas piadas, as mesmas interações e espaço zero para improvisações. BH pode se dizer orgulhosa de ter presenciado uma brincadeira inusitada em “Breakout”, quando o sósia Rafa Giacomo (da banda cover Monkey Wrench) surgiu correndo e cantando o começo de uma das canções mais adoradas pelo público. Não foram poucos que não perceberam a mudança e acreditaram que se tratava do próprio vocalista. Fora isso, o roteiro foi o mesmo dos três shows anteriores.

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No entanto, há de se considerar que era o primeiro show de mais de 70% do público presente. E pensando justamente nisso, que o FF fez uma apresentação memorável para ficar guardada no coração de cada fã que saiu com o rosto vermelho e afirmando categoricamente que havia sido o “melhor show de sua vida”. Foram 23 músicas no total, sendo que quatro eram covers e mais duas que ficaram de fora na última hora: “Hey Johnny Park” e “This is a Call”.

A turnê comemorativa do lançamento de Sonic Highways é nada mais que uma celebração da banda para homenagear o rock em geral. No meio do show, eles se reuniram num palco giratório (U2 feelings) entre a pista premium amarela e verde, e tocaram covers de Kiss, Rush, AC/DC e Queen. A pausa é um momento de alívio para o vocalista não forçar tanto a sua voz, mas ao mesmo tempo quebra o ritmo da apresentação. Como se não bastasse as longas jams em “Breakout”, “My Hero” e especialmente em “Monkey Wrench”, o Foo ainda faz opção de tocar covers ao invés de privilegiar seu próprio repertório. Podemos dizer que são três shows embutidos no preço elevado do ingresso. Compensou? Aparentemente sim.

Foo Fighters @ Belo Horizonte - 28/01/2015

Reforçando a imagem de uma das maiores bandas de rock da atualidade, o FF não se arriscou e optou pelo produto garantido: um show pesado, com músicas de todas as fases e sucessos conhecidos da maioria do público. Somando com o carisma e experiência do vocalista em ganhar a plateia, não tinha como dar errado mesmo com o ingrediente amargo da previsibilidade.

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Fotos: Polly Rodrigues | Vídeo: Ana Flávia Miranda