A linha entre o pessoal e o público na música pode ser cruel — e, para Chris Cornell, essa fronteira ficou especialmente incômoda dentro do estúdio.
Mesmo após anos de estrada com o Soundgarden, banda que ajudou a fundar em 1984 e com a qual se consagrou como uma das vozes mais potentes do grunge, Cornell nunca se sentiu à vontade com um aspecto crucial da criação musical: gravar vocais sob os olhos atentos de engenheiros e produtores.
Em entrevista antiga relembrada nesta quarta-feira, o vocalista revelou o quanto detestou o processo de gravação de “Black Hole Sun”, clássico absoluto lançado em 1994.
“Lembro que o Michael [Beinhorn, produtor] me fez cantar a música 11 ou 12 vezes, e depois montou uma ‘comp’ com os vocais principais… eu odiei”, contou Cornell, descrevendo a frustração de repetir uma performance emocionalmente carregada sob a rigidez do estúdio — e pior: com plateia.
Foi aí que ele decidiu mudar tudo.
“Depois disso, comecei a gravar todos os meus vocais sozinho. Eu fazia a engenharia de som e tudo. Só eu e o microfone.”
A decisão não foi capricho, mas um retorno às origens. Para Cornell, o ambiente ideal para registrar suas emoções era o mesmo onde as músicas nasciam: na solidão. “Sempre funcionou quando eu gravava demos em casa”, explicou. “Então fazia sentido levar isso pro estúdio.”
Embora muitas bandas tratem o estúdio como um espaço de experimentação coletiva, Cornell enxergava o processo como algo profundamente íntimo. Afinal, cantar sobre dor, angústia e transcendência exigia mais do que afinação — pedia vulnerabilidade. E vulnerabilidade não combina com sala cheia.
“Black Hole Sun” acabou se tornando um dos maiores sucessos do Soundgarden — mas, ironicamente, foi também o gatilho para que Chris Cornell abandonasse de vez a ideia de performance sob supervisão.
A partir dali, ele voltou a fazer o que sempre soube melhor: cantar como se ninguém estivesse ouvindo. [Via FarOutMagazine]

