A sexta-feira não estava apaixonante para o Department of Homeland Security (DHS), que teve um de seus vídeos de propaganda retirado do ar após um pedido de remoção por direitos autorais (DMCA). O motivo? O órgão resolveu embalar sua fantasia distópica de um futuro “livre de imigrantes criminosos” com “Friday I’m in Love”, clássico romântico do The Cure. Spoiler: deu ruim.
O vídeo, intitulado “Life After All Criminal Aliens Are Deported”, foi postado no X (ex-Twitter) no dia 2 de outubro, apresentando cenas aleatórias de Donald Trump nos anos 80, Twin Peaks, NBA, NASCAR e outros fragmentos de “América vintage”. A legenda prometia: “O futuro é brilhante.” Mas não por muito tempo.
Na sexta-feira (11), o conteúdo foi retirado do X após o takedown. No Instagram, a versão ainda está no ar, mas silenciada. No Facebook, segue viva — por enquanto.
Robert Smith 1 x 0 DHS
O uso da música sem autorização provocou um imediato movimento da gravadora e/ou dos representantes legais do The Cure, que aplicaram o strike de copyright com precisão cirúrgica. Não é a primeira vez que o DHS ignora as regras do jogo digital — e aparentemente, também não será a última.
Reincidente sonoro
Nos últimos meses, o DHS vem abusando do repertório pop para promover ações da ICE (agência de imigração) e outras campanhas com viés ultranacionalista. E vem tomando invertida atrás de invertida:
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JAY-Z processou o governo por uso não autorizado de “Public Service Announcement” num vídeo de recrutamento da ICE.
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O comediante e podcaster Theo Von, apoiador de Trump, ficou furioso ao ver um trecho de seu podcast usado fora de contexto e conseguiu que o post fosse apagado.
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A Pokémon Company precisou emitir um comunicado oficial esclarecendo que não autorizou o uso da música-tema da franquia em nenhuma propaganda governamental.
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Zach Bryan, depois de lançar uma música crítica à abordagem agressiva da ICE, teve sua canção “Revival” usada de forma sarcástica num vídeo institucional da agência.
Memes e censura: a nova era da propaganda americana?
Ao que parece, o DHS está testando um formato de comunicação “memeificada”, mirando o público jovem e digital — mas esquecendo de combinar o jogo com os donos dos conteúdos. A mistura de imagens pop com mensagens políticas sobre imigração, policiamento e “retomada da América” soa mais como sátira do que como campanha oficial. Mas infelizmente é tudo real.
E o The Cure nisso tudo?
Robert Smith, conhecido por sua integridade artística e aversão a usos comerciais da sua música, ainda não se pronunciou publicamente sobre o caso, mas o simples fato de a faixa ter sido derrubada indica que não rolou autorização alguma. E sejamos honestos: usar uma das músicas mais doces e melancólicas da história para vender deportação em massa é uma ironia de mau gosto que nem o Morrissey teria inventado.
Resumo da ópera distópica:
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DHS usou “Friday I’m in Love” em propaganda política.
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Vídeo foi derrubado por violação de direitos autorais.
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Outros artistas (JAY-Z, Zach Bryan, Pokémon, Theo Von) também já derrubaram posts do DHS.
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O departamento parece insistir na estética pop para promover agendas controversas — sem pedir licença a ninguém.

