Depois de cinco anos em silêncio criativo (mas nem um pouco inativa), Fiona Apple acaba de lançar “Pretrial (Let Her Go Home)”, sua primeira música original desde o aclamado Fetch the Bolt Cutters. E antes que você pergunte: não, não é sobre uma paixão tortuosa nem sobre um cachorro com nome de filósofo. É sobre mães presas sem julgamento, simplesmente porque não têm dinheiro para pagar fiança.
Sim, Fiona voltou. E voltou com os dois pés na porta do sistema judicial americano.
Letra de “Pretrial” – Fiona Apple
They wouldn’t let her
They wouldn’t let her
They wouldn’t let her, wouldn’t let her go home
They wouldn’t let her go home
They wouldn’t let her go home
They wouldn’t let her go home and now there’s no more home
She took on extra shifts, still couldn’t pay the bail
No danger, no flight risk, but she would stay in jail
She was not convicted of anything
She was not convicted of anything
Won’t you let her go home?
Won’t you let her go home?
Won’t you let her go home?
At home she’s got two kids and gramma needs her care
Who pack the linch and give meds if she’s in jail and not there?
They already took the only daddy that they ever had
Shot him then put a gun near him that he never had
Wouldn’t let him go home
Wouldn’t let him go home
Wouldn’t let him go home
Two months, the rent’s past due and gramma took a fall
The kids’ been missing school to see her at the hospital
When the teacher saw that they were not in school again today
She called CPS and CPS then took the kids away
Wouldn’t let them go home
Wouldn’t let them go home
Wouldn’t let them go home
Inside the news hits hard, she’s never been more alone
Can’t afford a new phone card, besides nobody’s home
Shame and isolation, economic deprivation
And there’s no more home
And there’s no more home
And there’s no more home
Preliminary hearing’s short, only witness is the cop
He doesn’t even show up in court and all the charges get dropped
What the fuck’s the point of all the fucking hell he put her through?
Took her whole world away and set her up to start ‘round two
Wouldn’t let her go home
Wouldn’t let her go home
Wouldn’t let her go home
And now there’s no more home
They wouldn’t let her
They wouldn’t let her
They wouldn’t let her, wouldn’t let her go home
They wouldn’t let her
They wouldn’t let her
They wouldn’t let her, wouldn’t let her go home
Wouldn’t let her go home
Wouldn’t let her go home
Wouldn’t let her go home and now there’s no more home
De CourtWatch para o estúdio: quando o tribunal vira estrofe
Nos últimos anos, Fiona não estava trancada num estúdio entre pianos e angústias poéticas — ela estava sentada em salas de audiências, fazendo anotações em cadernos como quem prepara um novo disco (spoiler: era quase isso mesmo).
“Eu ouvi, repetidas vezes, pessoas sendo presas só porque não podiam pagar pela liberdade. Principalmente mães. Foi devastador”, escreveu Apple em comunicado publicado junto ao lançamento.
A faixa nasceu de sua vivência com o projeto CourtWatch PG, em Maryland, e seu trabalho voluntário com a organização Free Black Mamas DMV, que milita pelo fim da fiança como critério para liberdade pré-julgamento. O resultado: uma música-protesto crua, poderosa, e absolutamente necessária.
A balada que grita “deixa essa mãe voltar pra casa”
“Pretrial (Let Her Go Home)” não tem ganchos pop nem refrão chiclete — e ainda bem. O arranjo é sóbrio, direto, e soa como se Nina Simone decidisse colaborar com um gravador cassete e um manifesto feminista.
O videoclipe, igualmente impactante, reúne imagens reais de mulheres que passaram por detenções pré-julgamento. Nada de estética polida: é verdade crua, colada em pixels, como um soco de realidade pra quem acha que o sistema funciona igual pra todo mundo.
Mais que uma música: um movimento
Junto com o lançamento, Fiona criou o site LetHerGoHome.org, onde é possível doar, aprender sobre fundos locais de fiança e entender o que é o famigerado “court-watching” — basicamente, sentar e observar audiências como forma de pressão social. Ou como Fiona chamaria: “espionar a justiça pra ela não fazer merda em silêncio”.
Conclusão: Fiona nunca decepciona — especialmente quando está indignada
Enquanto muita gente faz comeback com beats genéricos e letras sobre tequila, Fiona ressurge botando o dedo na ferida de um sistema racista e desigual, entregando arte com propósito e urgência.
Se Fetch the Bolt Cutters foi um grito de libertação, “Pretrial (Let Her Go Home)” é o eco desse grito, mirando agora na liberdade de outras mulheres. Porque se Fiona vai usar sua voz — que é uma navalha emocional embebida em honestidade —, que seja pra abrir as grades de quem nunca deveria estar presa.