O cantor, compositor e guitarrista Lô Borges, um dos fundadores do Clube da Esquina, faleceu neste domingo (2), em Belo Horizonte, aos 73 anos. A morte foi confirmada pela família e ocorreu às 20h50, em decorrência de falência múltipla de órgãos. Ele estava internado desde o dia 17 de outubro, após uma intoxicação medicamentosa, e passou as últimas semanas na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) com ventilação mecânica.
Nome essencial da MPB e da história cultural de Minas Gerais, Lô Borges deixa um legado que atravessa décadas e inspira gerações — das esquinas de Santa Tereza aos palcos do mundo.
Encontro que mudou a música brasileira
Nascido Salomão Borges Filho, Lô foi o sexto filho de uma família de 11 irmãos. Ainda criança, uma mudança provisória para o Centro de BH alteraria o curso de sua vida: nas escadas do Edifício Levy, conheceu um jovem chamado Milton Nascimento — o Bituca. “Eu tinha 10 anos, e ele, 20. Fiquei vendo o Bituca tocando violão e ele me perguntou: ‘Você gosta de música, né, menino?’”, relembrou Lô em entrevista a Pedro Bial.
Pouco depois, cruzaria com Beto Guedes nas ruas da cidade. Essas amizades juvenis se tornariam pilares do Clube da Esquina, movimento que uniu a tradição mineira com o rock psicodélico, o jazz, a música latina e as inovações sonoras do mundo.
O marco do Clube da Esquina
Foi com Milton Nascimento que Lô compôs e gravou o álbum Clube da Esquina (1972), considerado o maior disco brasileiro de todos os tempos, segundo a Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), e listado entre os dez melhores da história mundial pela revista Paste Magazine.
No mesmo ano, Lô lançaria seu primeiro disco solo, apelidado de Disco do Tênis, cultuado por sua inventividade e ousadia. Ali estavam faixas como “O Trem Azul”, “Paisagem da Janela” e a eternamente emocionante “Um Girassol da Cor do Seu Cabelo” — composições que se tornaram parte do imaginário brasileiro.
Silêncio, maturidade e renascimento
O sucesso repentino o afastou temporariamente dos holofotes. Lô se isolou na Bahia, em Arembepe, mas seguiu compondo. Em 1978, voltou com o disco Via Láctea, que ele mesmo considerava um de seus melhores. Na década de 1980, circulou o país com o álbum Sonho Real, e nos anos 1990 voltou ao centro das atenções com a canção “Dois Rios”, composta em parceria com Samuel Rosa.
A partir de 2019, manteve uma impressionante regularidade criativa, lançando um álbum de inéditas por ano. O último, Céu de Giz, foi lançado em agosto de 2025, ao lado de Zeca Baleiro.
Despedida de um mestre
Desde a internação, fãs, amigos e músicos vinham se manifestando em apoio e gratidão. A perda de Lô Borges deixa um enorme vazio na cultura brasileira, mas sua música permanece viva — em discos, partituras, vozes e nas esquinas onde arte e afeto se encontram.
“A gente era adolescente, dividimos cama, dividimos a juventude”, disse emocionado Márcio Borges, irmão e parceiro de Lô.
A história do Clube da Esquina começa — e permanece — com ele.
E, como em sua canção, “os sonhos não envelhecem”.

