Depois de sete anos de hiato, o Radiohead se prepara para subir aos palcos novamente com uma nova turnê, e todos os cinco integrantes se reuniram para uma rara entrevista em grupo ao The Sunday Times.
Na conversa, a banda falou sobre o motivo da pausa em 2018, os planos para o futuro, o impacto pessoal do luto na criação artística, e também abordou diretamente as recentes críticas relacionadas ao envolvimento com músicos israelenses e à guerra em Gaza.
A pausa: luto, depressão e esgotamento
Thom Yorke revelou que a decisão de pausar a banda após a turnê de 2018 veio da necessidade de lidar com o luto pela perda de sua esposa, Rachel Owen, falecida em 2016.
“Nunca me dei o tempo necessário para sofrer. A música doía fisicamente.”
Ed O’Brien, por sua vez, disse que estava “efetivamente de saco cheio do Radiohead” ao final da turnê:
“Eu amava os shows, mas odiava todo o resto. Estávamos exaustos, desconectados.”
O guitarrista passou por uma depressão profunda em 2021, mas afirmou que reconectar-se com a banda foi parte da sua cura:
“Passei a enxergar o quanto amo esses caras.”
A volta aos palcos (e talvez ao estúdio)
Thom Yorke enviou à banda uma lista com 65 músicas para montar o setlist dos próximos shows, que acontecerão com o palco no centro da arena, algo que eles não fazem desde 1993.
Sobre um novo álbum, Jonny Greenwood foi direto:
“Não sabemos. Não pensamos além da turnê.”
Yorke completou: “Estou chocado que conseguimos chegar até aqui.”
Polêmicas com Israel e Palestina
A entrevista também abordou as críticas recebidas por Yorke e Greenwood por conta de declarações sobre o conflito em Gaza e o envolvimento musical de Jonny com artistas israelenses, como Dudu Tassa.
O Radiohead já se apresentou várias vezes em Israel, incluindo um show polêmico em 2017 que ignorou um apelo de Roger Waters pelo boicote. Em 2024, Yorke foi vaiado por ativistas pró-Palestina durante um show solo na Austrália.
Sobre os protestos, Yorke desabafou:
“Isso me tira o sono. Querem apagar tudo que fiz, mas isso não pertence a eles. Não sou uma pessoa ruim.”
Yorke também relatou encontros tensos nas ruas:
“‘Free Palestine’ gritaram para mim. Um cara exigiu que eu me afastasse de Jonny. Mas os verdadeiros criminosos, os que deveriam estar no Tribunal Penal Internacional, riem enquanto nos vemos brigando nas redes sociais.”
Greenwood, casado com uma artista israelense, foi criticado por suas colaborações e até cancelou shows no Reino Unido após ameaças:
“É uma caça às bruxas. Não sou leal ao governo de Israel, mas sou aos músicos nascidos lá.”
Ele ainda revelou que está gravando um novo disco com músicos árabes e israelenses:
“É insano que eu me sinta com medo de admitir isso.”
Divergências entre os próprios membros
Quando perguntado se tocaria novamente em Israel, Yorke respondeu:
“De forma alguma. Não quero estar a 8 mil km do regime Netanyahu.”
Greenwood discordou:
“Um boicote só fortalece o discurso do governo. O mais perigoso seria se isolarem ainda mais.”
Apesar do desconforto, Greenwood concluiu:
“A única coisa que me envergonha é ter arrastado Thom e os outros para essa confusão — mas nunca por fazer música com artistas judeus e árabes.”
Medo de protestos, TikTok e hits inesperados
Yorke admitiu temer manifestações durante os shows:
“Mas não é sobre a gente. É sobre ter algo dramático para postar no Instagram.”
E ironizou sobre Israel no Eurovision:
“Mas também acho que o Eurovision não deveria existir. Então, o que eu sei?”
Ao comentar o sucesso repentino de “Let Down” no TikTok, música que ele quase tirou de OK Computer, Yorke disse:
“Lutei para ela não entrar no disco. Mas Ed disse: ‘Se não entrar, eu saio da banda.’”
Ed O’Brien resumiu o impacto da faixa:
“É o coração emocional do álbum. Meus filhos disseram: ‘Claro que tá bombando. Adolescentes estão deprimidos. É música pra isso!’”
A nova turnê do Radiohead começa em novembro e, mesmo sem promessas de novo álbum, o retorno da banda já é um dos eventos mais aguardados do ano.